Cerca de 30 estudantes de engenharia das universidades Estácio Norte Shopping, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Universidade Federal Fluminense (UFF) puderam circular no ônibus híbrido movido a hidrogênio e eletricidade desenvolvido pela Coppe/UFRJ e conhecer o Laboratório de Hidrogênio da Coppe. A atividade, realizada em 4 de julho, foi mais uma ação da Secretaria de Apoio ao Estudante (SAE) do Clube de Engenharia.
A visita à UFRJ teve início com a palestra “Nova tecnologia para ônibus urbano com tração elétrica”, de Edvaldo Carreira, pesquisador do Laboratório de Hidrogênio da Coppe. Engenheiro elétrico, Edvaldo destacou a importância do laboratório ter uma equipe multidisciplinar, com profissionais que, juntos, descobrem novas possibilidades para os desafios e as aplicações de seus trabalhos na sociedade. Segundo ele, a motivação do laboratório é a evolução no uso de combustíveis.
A linha de pesquisa do laboratório inclui tecnologias que se complementam. Uma delas é a pilha a combustível de óxido sólido, que gera eletricidade a partir de qualquer hidrocarboneto. “É o principal candidato para substituir os motores hoje”, afirmou Edvaldo. Outras tecnologias, necessárias à eficiência das demais, são materiais para armazenamento de hidrogênio. Na prática, são ligas metálicas que armazenam hidrogênio, quando em alta temperatura. Para combater o efeito corrosivo desse componente, o grupo também desenvolveu a barreira de difusão para hidrogênio. É usada revestindo o metal, como uma tubulação que aumenta sua vida útil. A linha de pesquisa se completa com a detecção de hidrogênio em materiais, útil para evitar que a concentração crítica de hidrogênio gere trincas e fragilize o metal.
O veículo desenvolvido é capaz de rodar 300 km sem precisar reabastecer. No ano de 2014, circulou dentro do campus Fundão da UFRJ e durante as Olimpíadas servirá para transportar atletas.
Ônibus menos poluentes
Na região metropolitana do Rio de Janeiro, os veículos são responsáveis por 77% das emissões de poluentes na atmosfera. É a principal razão para se buscar criar soluções com menor impacto ambiental, mais eficientes e viáveis. O Brasil é grande produtor de ônibus, sendo este o principal meio de transporte urbano.
O hidrogênio concentra alta densidade energética, mais do que madeira, carvão, petróleo e metano. Mas, assim como os estudos do etanol como combustível começaram nos anos 20 e só se tornaram praticáveis na segunda metade do século, a previsão para uso pleno de hidrogênio como energia é 2080. Para a equipe da Coppe, o desenvolvimento de um transporte coletivo sempre foi consenso: “Optamos por ônibus e não carro, porque o veículo de transporte de massa é a melhor maneira de se locomover na cidade”, explicou Edvaldo.
O onibus híbrido elétrico-hidrogênio com pilha combustível começou a ser desenvolvido no final dos anos 90. Desde o início se pensou em um veículo híbrido, uma vez que usar somente a pilha a combustível sairia muito caro. Híbrido, se tornou mais eficiente, barato e, portanto, viável. Já no segundo protótipo, o ônibus rendeu à equipe de desenvolvedores quatro medalhas no prêmio Greenbest 2011 Brasil. Além desse modelo de veículo, já pronto para circulação, eles também desenvolveram o ônibus híbrido elétrico-etanol e o 100% elétrico.
Um dos projetos em fase de conclusão no Laboratório de Hidrogênio é a Estação de Abastecimento de Hidrogênio, a EAH, para que não se precise mais despender recursos para comprar hidrogênio da indústria. Nessa estação será possível produzir, comprimir e armazenar o hidrogênio para abastecer os ônibus. O abastecimento acontece de forma semelhante ao gás natural. Parte da energia a ser utilizada na produção de hidrogênio será solar.
A visita técnica foi acompanhada pelo engenheiro elétrico Fernando Tourinho, diretor de Atividades Técnicas do Clube de Engenharia, que fez uma breve exposição aos estudantes sobre novas tecnologias, a produção de conhecimento no Clube de Engenharia e o inegável potencial da engenharia brasileira.
O pesquisador Edvaldo Carreira se mostrou feliz pela oportunidade de mostrar o trabalho de sua equipe aos estudantes: “Eu acho fantástico o Clube estar fazendo essa transposição do bastão, que é tão importante para não se perder a tecnologia. Fazer a transferência de conhecimento é formidável”, concluiu.