O Diretor de Engenharia da Petrobras, Roberto Moro, apresenta ao Conselho Diretor o Plano de Negócios para os próximos cinco anos

Denúncias da Operação Lava Jato fizeram surgir muitas dúvidas sobre a maior empresa do país. Com investimentos diretamente responsáveis pela sustentação de uma grande cadeia de fornecedores e prestadores de serviços em diversos setores, os atrasos na apresentação do balanço anual e o abrupto corte de recursos ajudaram a consolidar o cenário de incerteza que ainda hoje envolve a Petrobras. 

Boa parte do que se atribui às crises econômica e política, no entanto, estava planejado anteriormente e parte das informações que chegam às primeiras páginas dos jornais não estão corretas. Para esclarecer essas questões o Conselho Diretor do Clube de Engenharia recebeu, dia 24 de agosto, o Diretor de Engenharia, Tecnologia e Materiais da Petrobras, o engenheiro mecânico Roberto Moro. 

O Plano de Negócios produzido anualmente, em 2015 ficou pronto em julho. Embora em 2014 a empresa tenha quebrado recordes na produção de óleo, de gás, energia elétrica e movimentação de gás, o ano de 2015 começou com forte abalo. “Havia um esforço grande para tentar entender o que aconteceu, pensar o que fazer para combater e como evitar que se repita. É uma história ainda não terminada que drenou muito da nossa energia”, explicou Moro. 

Desde a descoberta do pré-sal, a Petrobras não faz seu Plano de Negócios com recursos próprios, mas com uma captação anual de cerca de 20 a 25 bilhões de dólares por ano. Com essas captações feitas até maio e com a segurança de caixa garantida, uma visão mais estrutural foi focada, bem como o cenário mundial do mercado do petróleo. O cenário “força do hábito”, aquele que prevê o petróleo como fonte de energia principal no mundo, permaneceu inalterado. O cenário do preço internacional de petróleo, no entanto, foi profundamente alterado no último ano. “A Arábia Saudita, grande reguladora do mercado, decidiu, após a crise da Primavera Árabe, não fazer a redução do preço do petróleo após o retorno da produção da Líbia. Isso ligou um sinal amarelo em todos os players do mercado mundial, mas não se esperava que isso fosse definitivo. Em novembro, no entanto, ficou claro que esse cenário não mudaria e surgiu o alerta vermelho. Os analistas mudaram radicalmente as suas projeções, rebaixando os valores de longo prazo de avaliação do Brent (petróleo) e essa foi a chave crucial para o nosso Plano de Negócios”, explicou o diretor.

Alavancagem e projetos

 O Plano de Negócios da Petrobras trazia fixado um nível de endividamento na ordem de 35% de alavancagem. Com a queda da geração operacional, a alavancagem chegou a 50%. “Para manter o nível de investimento que estávamos fazendo, ou nos individávamos mais, ou cortávamos investimentos. Então, o primeiro direcionador do plano foi a redução da alavancagem da companhia. Olhamos para o futuro, fizemos projeções e decidimos preservar a saúde da empresa. A forma que a Petrobras tem de se manter como grande alavancador dos investimentos dos negócios é que ela primeiramente esteja sadia”, expôs Moro.

 

A seleção criteriosa dos projetos a investir foi o segundo ponto de inflexão do Plano de Negócios da Petrobras para os próximos cinco anos. A redução da alavancagem exigia uma seletividade que colocou os projetos de exploração e produção como prioridades. “Estudamos quais projetos trazem retorno, são geradores de caixa e poderiam manter a máquina evoluindo para, no futuro, voltarem a alimentar toda a cadeia verticalizada que a indústria de petróleo oferece. O plano de negócios, no entanto, só conseguirá diminuir o endividamento da companhia em 2020”, explicou o diretor, explicitando que o problema não é transitório, mas estrutural. 

Identificada a capacidade de investimentos que a Petrobras projeta e quais deveriam ter continuidade por terem retorno de caixa mais imediato, o Plano de Negócios apontou para os 16 projetos de Exploração e Produção (E&P) que hoje estão em funcionamento com investimentos da ordem de RS$ 108 bilhões. A área de gás e energia ficou com apenas RS$ 6,3 bilhões em investimentos e boa parte dos projetos existem para dar suporte ao escoamento da produção dos projetos de E&P. Na área de abastecimento o investimento previsto é de RS$ 12,8 bilhões. No plano anterior havia 14 novos projetos a serem contratados para fechar a visão 2014 – 2019. Na visão 2015 – 2020 foram reduzidos para 5 projetos. Na área do esforço exploratório, grande investimento dos últimos anos, garantindo uma reserva de 18 anos, as reduções também foram aplicadas. “A Petrobras não vai, a princípio, participar de novos leilões da ANP. Claro que a situação das ofertas e a disponibilidade de caixa serão levados em consideração”, explicou o diretor.

Parcerias e engenharia

O Plano de Negócios traz boas notícias em relação a projetos em aberto. No COMPERJ, por exemplo, além das unidades de refino, há unidades de escoamento da produção de gás da Bacia de Santos. “Para que essa unidade de processamento de gás funcione são necessários infraestrutura e utilidades. Por isso, várias obras, inclusive algumas em que foram reincididos os contratos são necessárias. A paralização, no entanto, virá no final do ano. Estamos levando as obras do Comperj para a sua melhor condição técnica para, então, iniciar a sua hibernação. Gostaríamos de continuar com as obras das unidades de refino, mas dentro da disponibilidade financeira da companhia não será possível. Nosso plano é buscar parcerias para os negócios nessa área. Esse processo também não é tão rápido quanto gostaríamos, mas são negócios complexos”, explicou.

A engenharia dentro do cenário apresentado, segundo Moro, é uma ferramenta importante para superar obstáculos. “Nessa fase que nós estamos é importante para a Petrobras trabalhar junto com suas empresas fornecedoras. Na nossa visão é possível contribuir decisivamente para resultados melhores por meio da engenharia. Ela pode ser para a Petrobras, uma empresa de cunho tecnológico, nosso porto seguro, contribuindo com simplificação, padronização e tecnologia. É essa a ponte que a engenharia pode fazer para nos ajudar rumo ao futuro. Eu gostaria de ser um diretor de Engenharia que pudesse apresentar aqui grandes planos e investimentos, mas tão desafiador quanto é construir essa ponte para o futuro, mantendo a estabilidade da Petrobras, mantendo a empresa saudável para poder subir novamente degrau por degrau”, destacou, explicando que, hoje, a Petrobras vem tomando decisões frias, diretas, “que qualquer empresa tomaria, de forma profissional, tendo seu produto caindo para menos da metade do preço e estando endividada. Estamos dando um passo para trás para poder dar dois para frente. Isso traz riscos e nós sabemos disso”, finalizou. 

 

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