
Projeto do Memorial às vítimas do Holocausto, no Morro do Pasmado, em Botafogo.
Publicado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio de Janeiro (CAU/RJ)
O Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos/Brasil) divulgou nota de repúdio, no dia 7 de junho, ao novo projeto do memorial às vítimas do Holocausto, no Mirante do Pasmado, em Botafogo. O Icomos/Brasil, organização consultora da Unesco para implementação da Convenção do Patrimônio Mundial, defende a necessidade de o Comitê Gestor da Paisagem do Rio de Janeiro discutir com a população antes da liberação para execução de qualquer obra.
A nova proposta prevê a construção de um obelisco de 22 metros de altura, dividido em dez blocos, nos quais serão impressos os dez mandamentos. Em entrevista ao O Globo, o geógrafo e um dos estudiosos do conceito de paisagem cultural ligado ao Icomos/Brasil Rafael Winter Ribeiro alertou que o monumento pode colocar em risco o título que o Rio ganhou da Unesco em 2016, em reconhecimento à sua paisagem urbana. “O obelisco é uma ameaça à preservação da paisagem como nós conhecemos”, afirmou.
Parecer técnico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), assinado arquiteto e urbanista Paulo Vidal, sugere reestudo completo do projeto ou a transferência do memorial a outro local. O documento alerta também à necessidade de remoção completa da vegetação existente no Mirante do Pasmado. “Parece uma proposta desprovida de coerência com o objetivo de valorização das paisagens cariocas reconhecidas como Patrimônio Mundial pela Unesco”, ponderou Vidal no parecer.
O CAU/RJ se alinha ao posicionamento das principais entidades que historicamente atuam em defensa do patrimônio cultural e da arquitetura e urbanismo. O Conselho reconhece também a importância da construção do monumento em homenagem e em respeito às vítimas do Holocausto, além do papel fundamental da comunidade judaica no desenvolvimento do Rio de Janeiro.
A ideia de construção do memorial às vítimas do Holocausto tem mais de 30 anos. Em 1998, o ex-deputado Gerson Bergher convenceu o então prefeito Luiz Paulo Conde a promover concurso público de projeto. Organizada pelo Departamento Rio de Janeiro do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RJ), a competição teve como vencedor o arquiteto e urbanista Andre Orioli. O projeto continua o mesmo, mas o local originalmente pensado para instalação da estrutura era a Enseada de Botafogo. A mudança ocorreu em abril de 2017 por decisão do prefeito Marcello Crivella.
Para o presidente do IAB-RJ, Pedro da Luz Moreira, a proposta de alterar o sítio do monumento para o Morro do Pasmado revela descaso da administração municipal com o título concedido ao Rio de Janeiro de Patrimônio Cultural pelas paisagens. “Esse projeto não pode ser trasladado para o alto do Morro do Pasmado. A atitude denota desleixo com a paisagem da cidade, que agora é patrimônio da humanidade”, criticou Moreira.