Criação do Centro de Referência em Geociências (CRG) no Rio de Janeiro

Publicado em Centro de Referência em Geociências (CRG) no Rio de Janeiro

O SGB-CPRM (Serviço Geológico do Brasil), a ANP (Agência Nacional do Petróleo) e a Petrobras assinaram em 27/03/2019 um Memorando de Intenções com o objectivo de criar uma gestão integrada do conhecimento relacionado com a geologia nacional, promovendo o desenvolvimento tecnológico e a inovação principalmente para o sector do petróleo e gás.

A médio prazo, essa parceria ampliará o conhecimento geológico das bacias sedimentares do continente brasileiro e dos oceanos adjacentes. Os projetos de pesquisa serão financiados por royalties da produção de petróleo e cobrirão diversos aspectos: estratigrafia, tectônica continental e análise de bacias, geodinâmica do Atlântico Sul e Equatorial, geodiversidade e impactos ambientais, arquitetura litosférica e sistemas minerais, dados digitais e de grande porte, recursos renováveis e minerais para o futuro. Este acordo inclui vários elementos importantes, tais como :

  • a revitalização do Museu de Ciências da Terra (MCTer), no Rio de Janeiro,
  • a ampliação da rede da litoteca para receber e disponibilizar toda a coleta de amostras de núcleo e outras amostras de perfuração atualmente sob custódia da Petrobras,
  • a criação do Centro de Referência em Geociências (CRG), com laboratórios de última geração em petrocronologia, geocronologia e geoquímica isotópica.

Esta iniciativa facilitará à comunidade científica pública e privada a realização de pesquisas geocientíficas em um único local, algumas das quais serão pioneiras na América do Sul.

Museu de Ciências da Terra (MCTer)

O Museu de Ciências da Terra (MCTer) do Rio de Janeiro é historicamente uma referência para a pesquisa científica em geologia e paleontologia. Entre suas missões estão o intercâmbio de coleções e materiais de pesquisa, a hospedagem de pesquisadores e estudantes para estágios e estadias de pesquisa, bem como a divulgação e publicação científica. Apesar das condições precárias das reservas técnicas e laboratórios, o fato de o museu ter uma coleção única no mundo o torna particularmente atrativo para pesquisadores nacionais e estrangeiros. Sua excepcional importância científica, tanto para o acervo do qual é tradicionalmente depositário como para as pesquisas ali realizadas, e seu potencial de parcerias institucionais nas esferas pública e privada, fazem do MCTer uma instituição com capacidade de se tornar referência no panorama científico nacional e internacional.

Imagem do Google Earth 3D (30/06/2018) mostrando o Museu da Ciência e da Terra e o layout dos diferentes blocos para revitalização (Fonte: Projetos Conceituais dos MCTer CRG)

O prédio do museu está localizado no bairro da Urca, a poucas centenas de metros do famoso Pão de Açúcar. Será restaurada a fim de proporcionar acesso a um público mais amplo e permitir o pleno funcionamento de laboratórios e reservas técnicas fundamentais à pesquisa, desenvolvimento e inovação nas ciências da terra (sedimentologia, estratigrafia, biostrategrafia, paleontologia, micropaleontologia, paleo-ecologia, paleo-ambiente, paleoclimatologia, tectônica de bacias e sistemas petrolíferos associados). Estão previstas grandes obras de engenharia civil, incluindo, entre outras, a recuperação completa das fachadas do edifício principal (classificado como monumento histórico) e a construção de dois novos edifícios anexos para adaptar a infra-estrutura da reserva técnica, laboratórios, áreas funcionais e de apoio.

Proposta de reforma da agência C&P Arquitectura (Bloco 6) do edifício que será dividido em 5 andares (Fonte: Projetos Conceituais dos MCTer CRG)

Centro de Referência em Geociências (GRC)

O futuro Centro de Referência em Geociências (GRC) – cujo nome está sendo alterado – abrigará laboratórios equipados com instrumentos de micro-imagem e micro-análise de última geração. Oferecerá inúmeras configurações analíticas para geoquímica isotópica e geocronologia, possibilitando responder às crescentes atividades de pesquisa científica nos setores industrial (petróleo, gás e minerais) e público (universidades e outros organismos públicos de pesquisa). O funcionamento do MAF será baseado na estreita cooperação entre instituições de pesquisa nacionais e internacionais, com uso compartilhado e colaborativo de seus laboratórios. Seus custos operacionais serão cobertos pelo financiamento de projetos de pesquisa, principalmente através do programa P, D&I (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação [P, D&I] da Petrobras). O CRG contribuirá para o avanço do conhecimento geocientífico no Brasil, levando-o a níveis de competitividade comparáveis a outros centros de renome internacional no campo das geociências.

Esboço da fachada do novo prédio do Centro de Referência em Geociências (Fonte: Projetos Conceituais dos MCTer CRG)

Após a avaliação de vários sítios potenciais na região do Rio de Janeiro, foi tomada a decisão de localizar a RMC com base no próprio Levantamento Geológico do Brasil (SGB-CPRM) no distrito da Urca, próximo do Museu de Ciências da Terra (MCTer).

O CRG irá beneficiar de 7800 m2 de espaço (laboratórios, área de armazenamento de consumíveis e peças sobressalentes, escritórios, salas de reuniões, auditório, etc.) num edifício de 3 pisos. A parte “laboratorial” do piso térreo será composta numa primeira fase por cinco laboratórios que incluirão a maioria das abordagens técnico-científicas mais recentes, desde a preparação adaptada das amostras até à sua análise final, para datação de alta precisão e de alta resolução e caracterização geoquímica. Estes laboratórios são os seguintes:

  • O Laboratório de preparação de amostras (CRG-LPA) funcionará a montante de qualquer laboratório analítico e será essencial para gerar dados analíticos de alta qualidade.
  • O Laboratório de Microimagens e Análises Minerais (GMRC-MAML) terá como objectivo orientar as fases subsequentes da análise espectroscópica in-situ utilizando o microscópio electrónico de varrimento (SEM) e a análise mineral por microssonda electrónica (EPMA). Um dos objectivos será o de elucidar a textura interna do mineral e a sua composição química pontual através de cartografia química quantificada.
  • O Laboratório de Petrocronologia e Traçadores Isotópicos (CRG-LPTI) será constituído principalmente por espectrómetros de massa acoplados a fontes laser para a determinação simultânea de rácios isotópicos e elementos vestigiais e ultra-traço.
  • O Laboratório Avançado de Termocronologia e Gases Nobres (CRG-LTAGN) permitirá realizar determinações termocronológicas a baixas e médias temperaturas, complementando as técnicas a altas temperaturas acima descritas.
  • O Laboratório Avançado de Isótopos Estáveis (CRG-LIEA) será constituído pela primeira sonda iónica (SIMS) disponível na América do Sul. Esta sonda iónica permitirá a determinação de rácios isotópicos para uma multiplicidade de formulários de amostra e aplicações para além do campo geocientífico.

Esboço do novo prédio que abrigará os laboratórios do MAF. Observe o layout vertical de cada laboratório. No térreo há uma sala de equipamentos com atmosfera controlada de acordo com as especificações de cada equipamento. No primeiro andar estão as salas de apoio ao laboratório e, no segundo andar, as salas de pesquisadores associadas a cada laboratório.

Próximos Passos

Os projetos conceituais do Museu de Ciências da Terra (MCTer), do Centro de Referência em Geociências (CRG) e da rede de bibliotecas foram todos aprovados até o momento, e os termos de referência correspondentes estão sendo finalizados. Este ano será seguido da seleção de escritórios de arquitetura e engenharia para a realização dos trabalhos de construção e revitalização. Estas obras serão concentradas principalmente nos locais mencionados acima (MCTer, CRG) no bairro da Urca, no Rio de Janeiro. A rede da litoteca exigirá a construção de um novo prédio (unidade sudeste) no Parque Tecnológico, distrito da Ilha do Fundão, no Rio de Janeiro, próximo à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ao Centro de Pesquisas da Petrobras (CENPES). Duas outras unidades serão reestruturadas e ampliadas nas terras do Serviço Geológico do Brasil em Manaus/Amazonas (unidade norte) e Feira de Santana/Bahia (unidade nordeste).

A operação representa um orçamento de várias centenas de milhões de reais (R$) totalmente financiado pela parte do programa P,D&I (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação) da Petrobras dedicada à melhoria da infra-estrutura laboratorial. Os diferentes laboratórios (petrocronologia, termocronologia, isotropia avançada, etc.) do CRG terão muitos pontos em comum com os laboratórios conjuntos franceses CNRS-Universidade em geociências, tanto em termos de equipamentos analíticos como de temas de pesquisa. Foram estabelecidos contactos preliminares para beneficiar do feedback francês na concepção de laboratórios tão complexos e na instalação de equipamento analítico de alta tecnologia, bem como na criação de um programa de formação específico para a sua utilização (sonda iónica, por exemplo). Esta parceria SGB-CPRM – ANP – Petrobras é de fundamental importância para o Brasil, pois permitirá o desenvolvimento de projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação em geociências que podem ser associados a muitas outras grandes áreas de pesquisa brasileiras e internacionais.

Fontes:
Christian Lacasse (SGB)

Informações online:
Conexão Mineral
CPRM
Ministério de Minas e Energia

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