Comemoração do Centenário da Independência, em 1922, teve grandiosidade incomparável com as festividades atuais do Bicentenário
Por Conselheiro Cesar Drucker
Ouvem-se muitas críticas por não estarmos celebrando devidamente o Bicentenário da Independência, uma vez que ocorreram grandes festividades no Centenário em 1922. E uma das mais destacadas foi a Exposição Internacional realizada aqui no Rio de Janeiro, na Esplanada do Castelo.
A importância daquela exposição é reconhecida pelo escritor e historiador Laurentino Gomes: “O Centenário, em 1922, viu um Brasil com grandes ambições, celebrações pensadas, a Semana de 22, a Exposição Internacional, a primeira travessia aérea pelo Atlântico Sul, a afirmação de um Brasil que parecia acreditar em si mesmo.”¹
Dois nomes estão ligados à exposição: o do então Presidente da República, Epitácio Pessoa, que corajosamente decidiu fazer uma Exposição Internacional, nos moldes das que eram realizadas na Europa e nos Estados Unidos da América, e que seria a primeira abaixo do Equador no Novo Mundo. O engenheiro Carlos Sampaio foi nomeado pelo Presidente como Prefeito do Distrito Federal com a missão de preparar a cidade e organizar a realização da Exposição. Ele foi um engenheiro excepcional: formou-se na Escola Politécnica antes de completar 19 anos, e foi um dos fundadores do Clube de Engenharia.²
Nossa Exposição estendeu-se por alguns meses e desapareceu sem deixar vestígios, pois as dezenas de pavilhões que a compunham foram todos demolidos, com exceção de dois. E nem tivemos um símbolo sobrevivente, como a Torre Eiffel em Paris, construída para a Exposição Universal de 1889, que celebrou o Centenário da Revolução Francesa de 1789.
As exposições daquela época eram acontecimentos importantes, tanto para os países que as realizavam como para os países visitantes. Todos mostravam o que tinham de melhor: seus produtos primários, agrícolas, animais, cultura, artesanatos, seus produtos industriais mais adiantados.
As Exposições Internacionais proporcionavam tanta visibilidade e comércio que além dos pavilhões do país-hóspede e dos países visitantes, grandes empresas se agregavam e montavam seus próprios pavilhões.
A disseminação do uso de estruturas metálicas, com a vantagem de rapidez na montagem e posterior reaproveitamento, foi uma das causas da multiplicação das Exposições Internacionais.
Nossa exposição foi organizada na área que acabara de ser aterrada com o desmonte do Morro do Castelo. Ela se estendia do início da Avenida Central, hoje Rio Branco, até o atual Museu Histórico Nacional.
A recepção, escritórios e organização da Exposição Internacional ficavam no Palácio Monroe, imponente construção que se situava na Cinelândia. O Palácio foi o pavilhão do Brasil na Exposição Universal realizada em 1904 na cidade de Saint Louis, Estados Unidos da América, tendo ganho o prêmio de arquitetura da exposição. Foi desmontado e reerguido no Rio de Janeiro.
Os pavilhões das 18 nações participantes alinhavam-se ao longo do que é hoje a Av. Presidente Wilson. Havia uma larga avenida entre as duas carreiras de pavilhões, e no lado do mar situavam-se os pavilhões que mostravam produtos e atividades dos estados brasileiros.
Muitos dos países participantes trouxeram materiais e obreiros, o que levou nosso Ministério de Relações Exteriores a comentar: ”ergueram edifícios próprios para as suas exposições, e puderam assim installar-se em magníficas construcções de grande beleza architectonica e de estylo caracteristicamente nacional. Foi uma das demonstrações mais brilhantes de apreço que a Nação Brasileira mereceu de todos os povos civilizados³”.
Mas o grande sucesso popular da exposição foi sua área de diversão, jogos e entretenimento. Ocupava uma frente de 300 metros, desde as atuais instalações da Aeronáutica (3º COMAR) até a estação das barcas na Praça XV.
A Exposição Internacional tinha mais duas áreas. No hipódromo Derby Club, onde hoje está o estádio do Maracanã, ficava a exposição de animais nacionais e estrangeiros, que chegou a 500 exemplares. Em áreas próximas à Praça Mauá, empresas particulares construíram galpões para exposição de seus produtos ou serviços
De tudo, restaram apenas três prédios, dois construídos especialmente para o evento e um que já existia antes. O pavilhão da França hoje é a sede da Academia Brasileira de Letras. Um pequeno pavilhão na extremidade da Santa Casa da Misericórdia é hoje o Museu da Imagem e do Som. O atual Museu Histórico Nacional, antes da Exposição, era uma construção de característica militar. Foi adaptado para ser o Palácio das Grandes Indústrias da Exposição. Este é um local caro a nós engenheiros, porque ali começou o ensino da engenharia militar na Colônia, no século XVIII.
¹ Entrevista ao Jornal O Globo, de 25/06/2022.
² FGV – Claudia Mesquita
³ Catálogo da Exposição Internacional do I Centenário da Independência do Brasil.
Fotos do site Saudades do Rio