A energia solar tem sido alvo, desde 2010, de políticas públicas de incentivo, inclusão nos leilões de energia e cursos de capacitação que demarcam seu destaque no mercado de energia. Para apresentar as oportunidades para engenheiros e consumidores referentes à energia fotovoltaica, o Clube de Engenharia promoveu a palestra “O uso da energia solar fotovoltaica no Brasil e no mundo: diagnósticos e perspectivas”, com Hans Rauschmayer, consultor em energias renováveis e sócio gerente da Solarize Treinamentos Profissionais Ltda, no dia 19 de março.
O presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino, ao abrir o evento, comentou a necessidade do Brasil de avançar no setor: “Eu chamo a atenção para a contradição que existe entre a nossa necessidade de energia solar, essa energia limpa, e a nossa incapacidade de produzir os elementos necessários para sua instalação. Todos os painéis são produzidos na China. Países como o Brasil, com grande extensão territorial, recursos naturais e população, têm que ter investimento em ciência e tecnologia”.
Segundo Rauschmayer, o Brasil colhe os frutos da utilização em larga escala da energia solar pela Alemanha, a partir de 2011, e pela China, que hoje domina a fabricação dos módulos e viabiliza a importação pelo Brasil. “Enquanto eles fabricam barato lá fora, nós conseguimos instalar barato. Mas o ideal seria nós conseguirmos produzir barato aqui também”, afirmou.
Geração distribuída e a autonomia do consumidor
Dentre as diversas formas de se gerar e disponibilizar energia solar, incluindo postes solares e grandes usinas, o palestrante focou na Geração Distribuída (GD), modelo que combina a geração autônoma, a partir de módulos fotovoltaicos, com a conexão na rede de distribuição, sem utilização de baterias. Rauschmayer informou que é o tipo de energia solar que mais cresce. A GD é regulada pela Resolução Normativa nº 482/2012 da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), e nessa modalidade a energia é gerada em residências ou empresas onde será consumida, e o excedente é injetado na rede da concessionária. A energia da concessionária será consumida quando não houver a de fonte solar, à noite. A tecnologia requer um medidor bidirecional do consumo. O palestrante destacou que a resolução da ANEEL não permite venda para a concessionária, de modo que, havendo mais fornecimento de energia à rede do que consumo da mesma, serão gerados créditos para a fatura posterior.
A regulação ainda permite que a Geração Distribuída funcione de modos além do autoconsumo local. Entre eles, existe a geração compartilhada, na qual um condomínio gera energia em um único ponto e a distribui para os condôminos. Outra opção é o autoconsumo remoto, no qual a captação de energia e seu consumo acontecem num local – como um sítio ou a filial de uma empresa – e a compensação na conta de energia é feita em outro endereço. Neste caso é necessário que os endereços de geração da energia e de compensação correspondam à mesma concessionária.
Algumas vantagens da Geração Distribuída são a simplicidade da instalação; o fato de a residência não ser completamente dependente do sistema fotovoltaico; a pouca interferência na instalação elétrica predial; e a redução da carga térmica do prédio, esclareceu. A longo prazo, percebe-se a redução do custo mensal com energia. Nesse sentido, o palestrante também falou sobre o investimento necessário e o tempo de retorno. O valor do sistema a ser instalado depende de sua potência: um sistema de 4 kWp (quilowatt pico), por exemplo, tem o valor de 22 mil reais. O retorno desse investimento, na conta de energia, acontece de quatro a cinco anos, sendo a garantia dos módulos fotovoltaicos de 25 anos.
Instalação crescente e a geração de emprego
A instalação de um sistema fotovoltaico de Geração Distribuída passa por um processo junto à concessionária, sendo necessário apresentar projeto elaborado por engenheiro eletricista ou outro engenheiro competente em geração de energia. O projeto técnico deve calcular a quantidade máxima de energia que o cliente irá gerar, correspondente a seu consumo, e levar em consideração os aspectos físicos, como sombreamento, dados climáticos locais, áreas disponíveis para os módulos, etc.
O consultor abordou o potencial de empregabilidade da energia solar: os sistemas fotovoltaicos são pequenos e de fácil instalação, mas em ritmo de crescimento o setor precisa de muita mão de obra capacitada. A ANEEL projeta um crescimento da Geração Distribuída, do atual 1 GW de potência instalada, para 22 GW em 2035.
O evento foi promovido pela Diretoria de Atividades Técnicas (DAT) e Divisão Técnica de Engenharia do Ambiente (DEA), e contou com apoio das divisões técnicas de Energia (DEN), Recursos Hídricos e Saneamento (DRHS), Recursos Naturais Renováveis (DRNR), Engenharia Química (DTEQ), Ciência e Tecnologia (DCTEC) e Engenharia Econômica (DEC).