A presidenta Dilma Rousseff participa de uma série de encontros internacionais. Em pauta, entre outros, projetos na área de defesa

A indústria da defesa tem a marca de constituir vetores para o desenvolvimento de novas tecnologias de diversos setores envolvidos na cadeia de produção. Dessa forma, pode alavancar a indústria nacional como um todo enquanto desenvolve produtos de altíssimo valor agregado e o domínio de importantes tecnologias de uso militar e civil (tecnologias duais). São grandes os desafios tecnológicos e produtivos assumidos pelo governo, pelas Forças Armadas e seus institutos, pelas universidades e empresas brasileiras da área de defesa. No quadro de projetos estratégicos das Forças Armadas para os próximos 15 anos, alguns exigem grande desenvolvimento e capacitação de profissionais.

No estaleiro da empresa francesa Direction des Constructions Navales et Services (DCNS) está em prática um dos maiores contratos militares internacionais do Brasil: o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub). Engenheiros brasileiros estão em solo francês participando das etapas da produção. São mais de R$ 15 bilhões em investimentos para a construção de cinco submarinos, incluindo um submarino nuclear, de grande poder dissuasório. O contrato envolve a Marinha brasileira e o consórcio Bahia de Sepetiba (formado por DCNS e Odebrecht).

Durante esta segunda semana do mês de dezembro, a presidenta Dilma Rousseff participa de uma série de encontros para debater a crise internacional. Com o presidente da França, François Hollande, a reunião em Paris teve também como pauta os projetos de defesa. Por se tratar de um país parceiro na área, os encontros entre Brasil e França têm acontecido desde a Rio +20.

A perspectiva é que o governo brasileiro tome, em breve, decisões importantes sobre novas parcerias na indústria de defesa. Em agosto, os ministros Antonio Patriota (Relações Exteriores) e Celso Amorim (Defesa) reuniram-se com autoridades francesas, mas o processo ainda está indefinido. A ênfase da parceria estratégica na inovação terá como modelo precisamente o caso dos submarinos, inédito para os dois países. Com a parceria, a França ganha escala e dinamismo e o Brasil acelera o desenvolvimento tecnológico. O estímulo à indústria brasileira de defesa é uma das grandes expectativas.

A parceria envolve tecnologia de alta sensibilidade dos franceses, que contam com indústrias espacial, nuclear, aeronáutica e de construção naval, embora enfrente dificuldades econômicas. Questiona-se, inclusive, se o país continuará na vanguarda tecnológica e industrial mundial. Especialistas apontam que os grandes grupos industriais de defesa estão privilegiando relações de parceria e divisão de riscos financeiros e tecnológicos. A transferência de tecnologia tornou-se um critério-chave e decisivo nas compras de equipamentos de defesa.

O Brasil, nesse contexto, deixa de ser apenas um comprador de equipamentos, e torna-se parceiro estratégico para dividir o custo da inovação tecnológica. Os dois governos querem competir juntos no mercado internacional contra rivais dos Estados Unidos e da China. Além disso, o Brasil tem um programa bilionário, estimado em pelo menos R$ 200 bilhões, de reaparelhamento das Forças Armadas nos próximos 20 anos. Os franceses querem ser escolhidos na venda dos caças (FX2), de porta-aviões (Pronae), navios de superfície (Prosuper), vigilância e controle marítimo (Sisgaaz).

O Prosub inclui, em certo sentido, a transferência de tecnologia por décadas, na concepção, projeto, fabricação e manutenção de submarinos convencionais e nucleares. A maioria dos brasileiros que trabalha no projeto participou antes da construção dos cinco submarinos atuais da Marinha. Desde agosto de 2010, quando começou a construção do primeiro submarino em Cherbourg, mais de 220 brasileiros receberam cursos e programas de formação na França. A cooperação e transferência de tecnologia ocorrem através dos projetos de submarinos em Lorient, sistemas de combate em Toulon, sonares em Sophia-Antipolis e torpedos em Saint-Tropez. Cerca de 80 militares e engenheiros foram formados na França e voltaram ao Brasil para treinar pessoal suplementar.

Os cursos de engenharia em Lorient já ajudaram na concepção preliminar do submarino nuclear no Brasil este ano. Além disso, desenvolve-se o estaleiro naval em Itaguaí, que será inaugurado provavelmente em janeiro. A primeira parte do primeiro submarino, que inclui a proa e a vela, já está em fase final na Franca. A segunda parte e os outros submarinos vão ser construídos no Brasil. A expectativa é incluir cada vez mais equipamentos brasileiros de firmas que estão se capacitando, podendo criar um importante polo industrial naval em Itaguaí.

A transferência de tecnologia francesa ocorre também pela aquisição de 50 helicópteros EC-725. A produção está sendo incorporada pela Helibras, filial brasileira da Eurocopter, com crescente aumento de conteúdo nacional. A fábrica de Itajubá está sendo duplicada. O objetivo é criar um segundo polo de competitividade aeronáutica e exportar helicópteros para a América do Sul.

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