Presidente firmou acordos estratégicos nas áreas científica, tecnológica e comercial em maio
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou recentemente duas viagens fundamentais para as relações internacionais do país: à Rússia e à China. Pelo peso geopolítico e econômico, as missões reforçam o caráter multipolar do cenário mundial e trazem para o Brasil importantes conquistas nos campos científico, tecnológico e comercial.
O presidente levou ao menos 130 pessoas em suas comitivas, dentre ministros de Estado, políticos e empresários de primeiro escalão, dentre outros.
Diante das câmeras, a visita de Lula à Rússia foi marcada pela comemoração dos 80 anos do triunfo soviético na Segunda Guerra Mundial. Foram discutidos diversos assuntos, especificamente questões geopolíticas, como a paz na Ucrânia. A visita significa um sinal de que o Brasil pretende se fazer presente nos grandes assuntos da agenda internacional enquanto conciliador de conflitos internacionais. Destaca-se que o Brasil foi o primeiro país a reconhecer a Rússia após o desmantelamento da União Soviética.

Longe dos holofotes, um acordo prestes a ser fechado com a Tenex, subsidiária da Rosatom, permitirá que a estatal explore o urânio brasileiro e desenvolva centrais nucleares no Brasil. Neste contexto, o Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, informou que espera desenvolver Reatores Modulares Pequenos com a Rússia, em um futuro próximo, sem qualquer menção ao apoio à conclusão de Angra 3.
Também foram assinados dois acordos nas áreas de ciência, inovação e tecnologia. Destaca-se o Memorando de Entendimento para a promoção da pesquisa conjunta em áreas como clima, pesquisa polar, biodiversidade, biotecnologia, pesquisa nuclear, ciência e tecnologia espacial, tecnologias quânticas, astrofísica, física de astropartículas, pesquisa científica marinha e geodésia.
Durante a missão, a ministra Luciana Santos destacou o papel estratégico da cooperação internacional. Também foi ressaltada a importância da cooperação do BRICS nas áreas de ciência e tecnologia e que, como o Brasil está sucedendo a Rússia nesta Presidência, isto ajuda a dar continuidade nas parcerias entre os países.
Atualmente, dois produtos se destacam, entre os importados pelo Brasil, nas relações comerciais com a Rússia: óleos combustíveis de petróleo ou de minerais betuminosos (57%) e adubos e fertilizantes químicos (34%). Já as exportações brasileiras se concentram em produtos do agronegócio como soja (33%), café não torrado (18%) e carne bovina (18%).
O comércio bilateral entre Brasil e Rússia atingiu recorde histórico em 2024, chegando a US$ 12,4 bilhões (aumento de 9% em relação a 2023). Deste total, US$ 1,4 bilhão foram de exportações brasileiras (aumento de 8% em relação a 2023); e US$ 11 bilhões em importações (aumento de 9%). Sendo assim, existe espaço para que o Brasil melhore suas exportações, especialmente as dos chamados minerais críticos, como cobalto, níquel, lítio e urânio.
O chanceler Mauro Vieira acrescentou ainda que a presença de Lula na Rússia em meio ao atual cenário geopolítico desafiador “é mais um exemplo da nossa diplomacia ativa e uma prova do compromisso do governo brasileiro com o multilateralismo e com a resolução pacífica dos conflitos. Essa foi a tônica do encontro bilateral mantido com o presidente russo, Vladimir Putin”. “A visita à Rússia serviu igualmente ao fortalecimento da nossa parceria estratégica em diversas vertentes, entre as quais a comercial, a energética e a científica e tecnológica. Todos os países também têm que olhar e ver os seus interesses”.
Além da visita à Rússia, Lula esteve presente na China para uma visita de Estado. Essa é a segunda vez em seu atual mandato que se encontrou com seu homólogo, Xi Jinping.
Na visita foram discutidos assuntos políticos convergentes entre os dois países, inclusive trataram sobre a guerra da Ucrânia, algo em que os dois países têm trabalhado para alcançar a paz através do “grupo de amigos da paz Ucrânia”.

No dia 13 de maio, o Presidente Lula encerrou sua visita oficial à China com a assinatura de 36 acordos bilaterais, abrangendo infraestrutura, energia, saúde e estatística, satélites e espacial, agricultura, incluindo a familiar, saúde e meio ambiente, cooperação financeira e tecnológica, swap de moedas entre o Banco Central do Brasil e o Banco Popular da China, cooperação em Etanol e Mobilidade Sustentável dentre outros, bem como sinergias com o PAC, o Plano Nova Indústria Brasil e e o Programa de integração Sul Americana/Rota da Seda, destacando o interesse de empresas chinesas em participar do leilão do Túnel São Paulo/Santos, a realizar-se em agosto próximo, em parceria com empresas brasileiras.
Ademais, alcançou-se alguns resultados econômicos entre Brasil e China. Foram assinados acordos nas áreas de data centers, biocombustíveis, renováveis, fertilizantes e minerais. Estima-se que serão investidos pelos chineses cerca de 27 bilhões de reais no Brasil. Os acordos reforçam a importância econômica que a China possui para o Brasil, posto que se traduzem em diversos investimentos financeiros.
A balança comercial entre Brasil e China apresenta superávit para o Brasil. Em 2023, por exemplo, o superávit foi de US$ 51,1 bilhões. A China é o principal parceiro comercial do Brasil há 15 anos, e as exportações brasileiras para o país oriental representam uma parcela significativa do total exportado pelo país, sendo principalmente commodities como soja, minério de ferro, petróleo e carne.
A China exporta para o Brasil produtos manufaturados e apesar do superávit brasileiro, ela também tem registrado um crescimento nas suas exportações para o Brasil.
Em 2023, as exportações brasileiras para a China somaram US$ 122 bilhões, enquanto as importações da China para o Brasil totalizaram US$ 59 bilhões. China passou de 38º para 1º parceiro comercial do Brasil.
É importante ressaltar que os bons resultados da economia chinesa advêm em grande parte dos investimentos em educação, sobretudo nas áreas do chamado STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics). São cursos que formam 3,5 milhões de profissionais por ano, o que possibilita o desenvolvimento tecnológico do país asiático. É de se notar que seus últimos presidentes são profissionais da área de engenharia.
A visita de Lula aos aliados reafirma o protagonismo da política externa, já que consegue trazer benefícios políticos e econômicos com dois grandes parceiros, mostrando um senso de pragmatismo e de oportunidades que as relações internacionais do país devem possuir, sobretudo, quando se está diante de potências e em um mundo multipolar.
A missão também trouxe esperanças de concretização de um antigo projeto, que é a ligação por trilhos entre o litoral atlântico brasileiro ao Oceano Pacífico, na costa do Peru. Proposta semelhante já havia sido lançada no passado, através do projeto da Ferrovia Transoceânica, que nunca foi concretizada. Novo traçado é estudado pelo governo, mas são ainda enormes os desafios. O comércio entre o Brasil e a Ásia seria, entretanto, seria em muito facilitado com essa nova ligação.
O ministro do MRE disse que o Brasil reiterou a disposição de atuar, junto com a China, para uma solução negociada para o conflito na Ucrânia, em total acordo com as posições da política externa brasileira de ter relações e contatos com todos os países