Clube debate os impactos econômicos, tecnológicos e sociais do 5G

Evento apresenta potencial de aplicações da nova geração da internet móvel, mas alerta para os riscos de maior exclusão sem os devidos investimentos 

 

Está previsto para julho deste ano o início do funcionamento da quinta geração da internet móvel no Brasil. O 5G permitirá conexões mais rápidas, maior volume de tráfego de dados e a possibilidade de conectividade simultânea entre diversos aparelhos. Para discutir os impactos econômicos e sociais da introdução dessa nova tecnologia, o Clube de Engenharia realizou o evento “5G – Perspectivas”, pela série Diálogos 2022. No debate virtual, os participantes apontaram o potencial desse novo marco das telecomunicações para o desenvolvimento de inovações e também trataram dos riscos dele acelerar os abismos sociais no país. 

O presidente do Clube, Márcio Girão, disse em sua palestra que um dos principais impactos do 5G será o advento da chamada Indústria 4.0.  A internet móvel de alta velocidade possibilitará não só uma potente conexão entre fábricas, como permitirá maior automação nas linhas de montagem, nos estoques e em toda a operação dessas unidades. O resultado será maior eficiência, menor risco de acidente e também necessidade de reabilitação de mão de obra. Fenômeno semelhante deve ocorrer no agronegócio, com uso de sensores, drones e outros equipamentos que permitirão maior controle no plantio, cultivo e colheita. 

O palestrante explorou diversas aplicações que poderão ser desenvolvidas ou incrementadas com o funcionamento do 5G nos setores de saúde, logística, transportes, entretenimento, entre outros. No caso brasileiro, essa realidade só será possível à medida que as empresas vencedoras do leilão realizarem os investimentos necessários, mas também vai depender do poder de compra da população para a aquisição de aparelhos e planos. A previsão é de que em 2025, cerca de 20% dos brasileiros já estejam conectados na nova tecnologia e que paulatinamente os preços se ajustem. 

“São essas características que viabilizam milhares de novas aplicações em todos os setores da economia. Num avaliação história, o 2G foi praticamente voz e mensagem, no 3G já entrou a internet, no 4G as redes sociais, os jogos, a internet das coisas com algumas limitações, mas no 5G abre uma rede e uma gama de possiblidades muito mais ampla”, afirmou Girão.

Novas demandas e oportunidades

O engenheiro e pesquisador da Coppe/UFRJ Paulo Diniz também ressaltou na sua palestra a diversidade de aplicações que a nova tecnologia proporcionará. Segundo ele, apesar de as inovações trazidas tenderem a tornar algumas funções obsoletas, novas demandas de trabalho podem surgir. Para que haja um equilíbrio e o país não venha a sofrer com mais desemprego, seria necessário realizar esforços no sentido da educação e capacitação da população, além do investimento em desenvolvimento tecnológico. 

“A gente sabe que a tecnologia eletrônica atrai muito os jovens, que gostam de usar os mais variados gadgets e se impressionam com o que se consegue fazer com esses dispositivos. Isso pode ser um atrativo para poder dar oportunidade para essas pessoas, através da educação, pois não adianta dar o aparelho e esperar que ela aprenda sozinha a ponto de produzir coisas novas”, ressalta Diniz. 

Imagens: Freepik

O terceiro palestrante foi Clemente Lúcio Ganz, que atua na assessoria a centrais sindicais. Segundo ele, o emprego da tecnologia não tem trazido resultados equânimes para a sociedade e tende a ser perverso para os trabalhadores, mas uma mudança de orientação política pode reverter essa tendência mesmo com a introdução do 5G. Para ele, se tomadas as decisões corretas, os avanços tecnológicos podem contribuir com o aprimoramento educacional, da saúde, do monitoramento ambiental e de novas alternativas energéticas, além de maior eficiência entre micro e pequenas empresas.  

“Essa estratégia de difusão e de ampliação da tecnologia tem que vir acompanhada por decisões políticas, de Estado e de governo e pactuadas entre agentes econômicos, trabalhadores e empresários, na formulação de estratégias que sejam capazes de promover uma tecnologia que nos permita dar saltos disruptivos em relação aos estrangulamentos e obstáculos da nossa realidade”, afirmou Ganz.  

Atuação sindical reformulada

Luis Antonio Silva, presidente da Federação Interestadual dos Trabalhadores em Telecom-Livre e presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Telecom Rio, destacou os desafios que o movimento sindical vai enfrentar com o aumento da terceirização do setor. Ele defendeu investimentos em qualificação para que se evite a precarização das condições de trabalho e também maiores investimentos educacionais para a população em geral para a obtenção de maior inclusão. 

“Não é possível o movimento sindical, com as transformações do mundo do trabalho que nós temos, com esse tipo de sindicalismo. Vamos ter que transformar os sindicatos. Será um sindicato mais jovem, mais dinâmico, utilizando cada vez mais essa tecnologia da informação para sua comunicação e mobilização, mas será outro tipo de sindicato. Com uma outra forma de organização”, ressaltou Silva. 

O encontro contou a apresentação do ex-presidente do Clube e atual presidente do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos (IBEP), Francis Bogossian. A mediação foi do vice-presidente do Clube, Márcio Patusco, que também apontou desafios que o país terá de enfrentar com o advento da nova tecnologia. “Estamos na infância de uma nova tecnologia, que é o 5G. Por isso, precisamos saber quais são as perspectivas interessantes e quais são aplicáveis ao nosso ambiente”, declarou Patusco. 

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