Cerimônia na sede da entidade contou com a presença de autoridades, que destacaram momento único vivido pelo país
A posse da nova Diretoria do Clube de Engenharia, realizada na sede da entidade no último dia 9 de setembro, reforçou o papel da instituição, que com seus mais de 140 anos de existência, continua sendo um bastião na defesa da democracia, da soberania e do desenvolvimento nacionais. Num momento em que o Brasil busca o caminho da neoindustrialização, o compromisso da entidade com essas causas foi ressaltado nos discursos das autoridades presentes. Como em outros episódios da história brasileira, a mais antiga associação de engenheiros da América Latina mantém seu protagonismo nas iniciativas em prol do progresso do país.
O novo presidente do Clube, Francis Bogossian, que assumiu o cargo pela terceira vez, ressaltou que o alinhamento da entidade com o processo de neoindustrialização não tem relação com qualquer forma de partidarização. É um imperativo ao qual devem responder todas as organizações da sociedade civil que apoiam o desenvolvimento técnico-científico brasileiro e consequentemente seu crescimento econômico com justiça social. Ele resumiu sua visão estratégica do momento atual e das perspectivas que ele enseja em dez itens que serão também os compromissos da entidade nos próximos anos.
“O Clube de Engenharia, entidade Nacional fundada no Império, em 1880, se propõe a ser o amálgama de todas as demais entidades brasileiras unidas nesse empenho comum para reerguer a Indústria Brasileira, apertando as mãos com o projeto do Governo Lula, o NIB, Nova Indústria Brasil”, afirmou Francis Bogossian. “Sem partidarismos, buscando o apoio de todas as correntes de pensamento e de opinião, solicitando, para isso, a colaboração dos veículos jornalísticos, que esposem a mesma ideia de que o desenvolvimento nacional terá, na união de forças, o impulso de que mais necessita. Não estamos apoiando o projeto de um governo, estamos apostando num projeto do Estado Brasileiro, que tenha continuidade e se perpetue”, acrescentou o presidente do Clube.
O ex-presidente Márcio Girão, que fez um balanço dos avanços alcançados em sua gestão, destacou o quanto o projeto de neoindustriazação depende da atuação dos engenheiros e profissionais de carreiras afins para ser bem sucedido. Além da participação do meio acadêmico, com seu trabalho de pesquisa científica, as inovações precisam de quem as construa na prática, obedecendo a parâmetros exequíveis pelas empresas.
“A aceleração que o Brasil precisa para ombrear as nações desenvolvidas, e assim gerar a riqueza para o bem-estar de seu povo, exige um planejamento que integre a geração de conhecimento na academia com as competências empresariais de base tecnológica, aplicadas aos diversos eixos dos desafios dos projetos nacionais de desenvolvimento. Somente assim, consultando o futuro, o orientador de uma tese saberá quais conhecimentos serão necessários, os empresários onde arriscarão seus projetos inovadores, e o governo, por meio de suas agências de fomento, onde mais eficientemente aplicará os recursos e a construção e manutenção da infraestrutura científica do país”, afirmou Márcio Girão.
Como grande parte da realização do projeto de neoindustrialização depende de recursos do BNDES, a presença do presidente do banco público na cerimônia selou de forma ainda mais contundente a parceria do Clube com essa iniciativa. O economista Aloizio Mercadante contextualizou a nova estratégia de desenvolvimento, analisando o quadro geopolítico mundial, em que nitidamente a disputa pela supremacia passa pela corrida tecnológica, cada vez mais incentivada pelos Estados. Mercadante fez também um balanço de diversas iniciativas que estão sendo tomadas pelo banco no sentido de retomada do fomento ao crescimento do país.
“Nós estamos vivendo um outro período da história e é por isso que eu vim aqui hoje. O BNDES quer trabalhar e estar junto do Clube de Engenharia porque aqui se resistiu, se lutou, se defendeu o Brasil e a produção do país. Quero fazer uma convocação porque vocês têm técnicos em todas as áreas importantes bem como o BNDES e é fundamental que avancemos no acompanhamento, em sugestões, recomendações e aprimoramentos do Nova Indústria Brasil”, disse Aloízio Mercadante.
A diretora de Exploração e Produção da Petrobras, Sylvia dos Anjos, destacou o quanto a história da companhia se confunde com as lutas do Clube, que apoiou a campanha O Petróleo É Nosso, que resultou na fundação da empresa por Getúlio Vargas em 1953, entre outros episódios. Ela defendeu a retomada da engenharia nacional e da indústria naval, que foram no passado bastante impulsionadas pela petrolífera. Apesar das dificuldades vividas por conta do desmantelamento das grandes empresas fornecedoras, há avanços no sentido de incremento das encomendas de navios, da retomada da fábrica de fertilizantes, da inauguração do Complexo de Itaboraí, entre outras. Ela leu mensagem da presidente Magda Chambriard dedicada à nova Diretoria:
“A Petrobras, como uma empresa que tem a engenharia junto com a geologia como sua base de fundação, dá as mãos ao Clube de Engenharia nessa jornada e nesse sentido é imperioso destacar alguns passos relevantes que temos dado na nossa gestão para reconhecer a relevância e o potencial da engenharia brasileira. Nós na Petrobras, junto com o governo federal, temos um firme compromisso com a engenharia brasileira, razão de ser desse Clube de Engenharia”, afirmou Magda Chambriard, através de mensagem escrita.
A neoindustrialização também passa pelo apoio da FINEP, cujo atual presidente, Celso Pansera, participou da cerimônia. Ele destacou o momento único que o país vive e o quanto a inovação ganhará impulso daqui para frente. A principal alavanca dada pela Financiadora será através do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia), que pode atingir no ano que vem mais de R$ 20 bilhões.
“Em um ano e meio, nós já assinamos 1.460 contratos num volume de R$ 19 bilhões e 20 milhões. São valores inéditos. A FINEP está colocando no Nova Indústria Brasil uma projeção de R$ 51 bilhões nos quatro anos do governo Lula e a expectativa é de superar porque o FNDCT está muito superior ao que imaginávamos”, afirmou Pansera.
Mesmo sem fazer referência direta à Operação Lava-Jato, o reitor da UFRJ, Roberto Medronho, lamentou o processo de desmantelamento das empresas da construção pesada sofrido a partir dos desmandos da força-tarefa. Ele lembrou as lutas históricas do Clube e defendeu a retomada do desenvolvimento com a inclusão da engenharia nacional no projeto.
“Infelizmente vivemos um momento muito difícil no país nos últimos anos, para dizer o mínimo, que foi a destruição das empresas de engenharia, que sofreram processo persecutório, totalmente à margem do devido processo legal, trazendo muitos prejuízos para esse país. Se fez mal feito, que pague perante a Justiça. Mas quando você ataca a indústria e fecha a indústria, você está atacando a todos os trabalhadores e ao povo brasileiro”, ressaltou Medronho.
Além das falas, o novo momento requer ação. E um dos primeiros compromissos já firmados pelo Clube nessa união da sociedade civil em prol de um projeto de país mais desenvolvimentista é a participação no Fórum da Engenharia Nacional, previsto para este ano. Ele será preparatório para a 1ª Conferência Nacional da Engenharia, prevista para 2025. O objetivo é unir, além das entidades, o apoio de cerca de 1.300.000 profissionais e mais de 230 mil empresas de engenharia do país em favor da causa da neoindustrialização.
Fotos: Fernando Alvim
Assista aqui vídeo da cerimônia: